terça-feira, 4 de março de 2008

PESSOAS FUNDAMENTAIS: JUSSARA NERY, MONTANHISTA,VOLUNTÁRIA NA FEMESP E APEE, MÃE, ESPOSA E TRABALHADORA.

Com a mão na massa e fazendo acontecer manutenção de trilha Pedra do Baú


Dizem que "por trás de todo homem existe sempre uma grande mulher", esta máxima não deixa de ser verdadeira na maioria dos casos e não poderia ser diferente com nossa primeira dama e acumuladora de funções Jussara Nery, uma das mulheres com "tripla" jornada de trabalho, montanhista de longa data, secretária da Femesp, mãe de dois rapazes, o Pedro e o Daniel, esposa de Silverio Nery (presidente da FEMESP e CBME) e ainda sobra um tempinho pra trabalhar como gerente de vendas em uma empresa de comercio de equipamentos de segurança...ou seja , é daquelas mulheres que definitivamente "põe a mão na massa" e faz acontecer.


Acompanho o trabalho de "bastidores" da Jussara há alguns anos e devo dizer que é daquelas pessoas que fazem a diferença, pela dedicação, pela competência e carinho com que executa todas as coisas que lhe são pedidas e mais as que ainda inventa.


Mas este trabalho que é de extrema importância quase nunca aparece para o público, afinal na hora de fazer a entrevista os meios de comunicação sempre vão atrás de quem possui os cargos, presidentes, diretores, que com certeza são muito importantes, mas desta vez queremos que vocês conheçam Jussara Nery.



1) Há quanto tempo vc. pratica montanhismo e dentro do montanhismo qual sua atividade preferida?


Comecei a curtir montanhas em 1976 quando fiz minha primeira viagem de mochila, de SP a Bariloche, só de carona e trem. Na época quase não se falava em montanhismo no Brasil, mas subi o Cerro Lopes até o refúgio para chegar perto da neve. Depois disso não parei mais de viajar e caminhar. O curso de escalada em 91 deu outra visão e novas possibilidades. Mas o grande prazer mesmo para mim era caminhar, fazer longas travessias.

2) Conte-nos um pouco da sua história como montanhista?


Continuando pois já comecei a contar um pouco da história, com a chegada dos filhos tivemos que adaptar as viagens para não parar e agregar a família. Caminhar é o mais viável, carregava um pequeno, fazia o maior andar e assim fomos até que eles começaram a carregar suas próprias coisas, começaram com a primeira travessia um com 8 e outro com 6 anos fazendo a travessia da Bocaina, a Trilha do Ouro. Na época dos meninos pequenos fazíamos muitas viagens de bicicleta também, outra coisa boa de se fazer com a molecada e curtir paisagens de montanha. Hoje são eles que carregam coisa para mim, claro. Ainda fazemos viagens juntos, a última foi em 2006, o circuito do Parque Torres del Paine no Chile e trilhas no Parque Los Glaciares, na Argentina, mas já fizemos várias aqui no Brasil, Bolívia e Peru.Muitas vezes viajamos sem os filhos, é pesado viajar em 4 quando sai tudo de um bolso só não é? Fizemos as clássicas no Nepal, tanto Circuito do Anapurna como Kala Pattar com aquele visual incrível do Everest. A primeira experiência com altitude foi um passo de 5400 m, Thorung La, com neve acima do joelho e vento de derrubar! Mas foi pura emoção, depois de 2 dias parado pois estava nevando, sair às 4 da madruga e chegar ao passo às 11 da manhã e ver o planalto Tibetano e muitos picos de 8000, de chorar mesmo.
Durante 3 anos tive em sociedade com Manoel Morgado uma agência dos sonhos de todo montanhista, chamava-se Altas Viagens, sugestivo o nome, eram viagens incríveis para o Nepal, Tibet, Vietnã, Índia e na Bolívia. Eram viagens que nós gostávamos de fazer, porém com um grupo pequeno, oferecendo a estratégia e a guiada. Os padrões eram quase de mochileiros, imaginávamos que como nós muitas pessoas ficariam apaixonadas pela aventura. Não foi bem assim, quem quer viajar com agencia quer conforto também e não aceita as situações inesperadas.Escalei gelo na Bolívia pois acompanhei vários grupos de curso de escalada em gelo na época da agência e isso me deu várias oportunidades.Continuo até hoje fazendo caminhadas e escaladas tranqüilas, que não exijam grandes empenhos pois não consegui me aprimorar nessa modalidade.Na verdade, já fiz de tudo um pouco como muitas pessoas que gostam de montanhas.Não daria aqui para enumerar as viagens todas mas posso dizer que foram muitas e ainda muitas virão.

3) Você é muito envolvida com todos os trabalhos da FEMESP e APEE. Como começou seu trabalho voluntário nas duas instituições e há quanto tempo?


A FEMESP tem 6 anos mais 2 anos anteriores de elaboração, e estou nela desde o início. A APEE foi fundada no mesmo ano e também estou lá desde o início. Assim como no CMSM que atualmente está em processo de encerramento. Para minha infelicidade sou eu a fazer esta tarefa triste. Esse é um retrato do momento atual que vivemos.


4) Quais os motivos que te levaram a ser voluntária nessas instituições?


Acreditamos que as competições são o principal meio de crescimento do esporte e apesar de não escalar eu sempre dei a maior força para o esporte. É através das competições que somos reconhecidos como entidade esportiva perante os órgãos públicos. O montanhismo vem como esporte não competitivo e para puro deleite dos praticantes. Por que me envolvi? Por que eu gosto das montanhas e do montanhismo e só com uma instituição bem organizada e representativa vamos poder continuar praticando nosso esporte, lutar pelos acessos além de levar às pessoas uma mensagem muito importante que é a da preservação da natureza.Quero ver meus netos fazendo o que fazemos hoje, e se tudo correr bem vendo o que eu vi, pois já tive o desprazer de ver locais destruídos em menos de 20 anos. Isso é a força que me move a dar um pouco do meu tempo para a FEMESP.A APEE sempre foi pra mim uma forma de movimentar e divulgar a FEMESP assim como arrecadar verba para nossa subsistência. As pessoas não sabem mas temos que pagar contador e cada Ata que registramos em cartório temos que pagar, alem disso temos que pagar a CBME que por sua vez paga a UIAA. De onde vem esse dinheiro? Dos clubes filiados, que pagam muito pouco e dos campeonatos quando estes tem patrocínio, se não nem daí.Vendemos umas camisetas e arrecadamos mais uma verbinha, mas nada significativo. Esse é problema sério pois sem verba não continuamos a existir.

5) E como é ter tempo para tudo ?


Não tenho tempo para tudo, não sei o que faço pra dar conta de tudo. As vezes gostaria de ter a cabeça mais vazia, mas nunca está. Alem do trabalho, a casa, os filhos ainda moram lá, agora tenho as futuras noras, os dois gatos, a mãe, e é claro o marido.Mas isso é muito bom, tenho pessoas que gostam de mim a minha volta e ainda tenho amigos e conhecidos em todas as partes e acho que nunca vou me sentir só.

6) Você acha que existe reconhecimento por parte da comunidade de montanhistas, atletas e do trabalho que vocês realizam na FEMESP e APEE?


Uma palavra só, não, infelizmente, as empresas do ramo dizem que não vale a pena investir nos campeonatos ou nas atividades dos montanhistas, não sei em quem vale, mas eles não deram mais apoio nos últimos 2 anos. No inicio eram bem participativos gostavam dos resultados, mas sinceramente os próprios atletas e escaladores não apoiaram mais também. Imagine um campeonato sem público? Que vontade de patrocinar teria uma empresa onde sua marca seria vista por 100 pessoas? Alem disso não existe comprometimento dos atletas com as marcas que os apóiam, não dão retorno e ainda reclamam que foi pouco apoio recebido. São poucos escaladores que estão ai sobrevivendo de escalada, só aqueles que levam a sério a escalada e não querem apenas equipos e grana para viajar e escalar com grana de alguma empresa. É bom que eles saibam que é assim que os patrocinadores pensam.

7) É muito comum ouvirmos dos escaladores e montanhistas mais críticas do que sugestões ou elogios, sabemos que muitos apenas "falam" e na hora do "vamos por a mão na massa" e trabalhar eles desaparecem. Vocês tem recebido novos colaboradores, tem conseguido dividir tarefas e renovar o quadro de voluntários?


Esse trabalho de arregimentar é duro. Gostaria muito de estar agora apenas ajudando os novos diretores da FEMESP ou mesmo da APEE. Mas não temos tido muitos adeptos novos. No ano passado tivemos a colaboração forte de novas pessoas, não vou citar nomes pois eles sabem quem são, devido ao afastamento do Silverio presidente da FEMESP, devido a trabalho. Muitos arregaçaram as mangas mas o circulo ainda é pequeno, precisamos de mais participação nessa tarefa burocrática assim como nas atividades que provemos, sejam mutirões de limpeza ou de manutenção de trilhas ou vias de escalada, sejam elas campeonatos ou festas. Alem disso promovemos os Cursos de Iniciação ao Montanhismo o qual dá o direito a um Selo de Montanhista em sua carteirinha de sócio de qualquer clube filiado, emitido pela FEMESP.


8) Você acha que seria importante ter mais participação da comunidade, seja nos campeonatos da APEE e nas ações voluntárias pela FEMESP?


Nos campeonatos não só é importante como fundamental. Este ano estamos quase pensando em não faze-los, para quem? E por que? Precisamos repensar se devemos gastar tanto tempo com isso sem retorno. A APEE está pensando em fazer ações com crianças para criar a base e destacar novos escaladores. Seria um caminho para reforçar a base do esporte. Me impressiona ver que nos campeonatos os escaladores não vão ver os feras escalarem, seria uma boa oportunidade de aprender não acha? E as torcidas? Inexistem, parece que existe um clima forte de competição pessoal e um pouco de inveja de quem não consegue mandar bem.9) Quais as principais conquistas realizadas pela FEMESP e APEE e que na sua opinião foram relevantes?
Primeiro sobreviver estes 6 anos já foi uma conquista. Depois a criação do Adote uma Montanha e o tempo que esteve ativo (essa é mais uma frente que precisa de gente para tocar), o projeto mais bacana da FEMESP, na minha opinião, que agora devido a abrangência é da CBME. Também a criação das normas de Homologação de Cursos cuja primeira está em vigor e já com 3 clubes adeptos com seus cursos homologados, alem disso é claro o Selo de Montanhista que confirma as questões de respeito a ética e mínimo impacto preconizadas pela FEMSP.No âmbito da APEE esses anos de campeonatos colocaram SP a frente dos outros estados no que se refere a padrões, regras, organização, passando a ser referencia para muitos organizadores. Seguimos os padrões UIAA (atualmente IFSC) na intenção de treinar nossos atletas para competições internacionais. Isso muitas vezes criou problemas parecendo que éramos antipáticos e exigentes demais. Uma pena que a não profissionalização da escalada comece nos próprios escaladores, os quais deveriam ser os primeiros a exigirem regras rígidas e organização de primeiro mundo. Voltando ao nosso montanhismo clássico, a participação da FEMESP na Câmara Técnica e Conselho Consultivo do PNI tem permitido que a manutenção do acesso livre ao Parque aos montanhista permaneça alem de darmos as diretrizes para abertura de trilhas fechadas há anos e a normativa para as vias de escalada e novas conquistas.Essa participação requer esforços e gastos pessoais de vários membros da FEMESP, muitas reuniões são aos sábados ou até em dias de semana. Alem disso o trabalho paralelo de elaboração de mapas, relatórios e propostas é imensurável.Quem vai ao PNI recebe um folheto inédito para o PNI elaborado pela FEMESP.Depois de relatar algumas ações (veja mais no site da FEMESP www.femesp.org e www.apee.com.br), vocês conseguem ter idéia de quanto isto custa? Qual o valor desse trabalho voluntário? Quanto de verba sai do bolso de apenas algumas pessoas?Quem se habilita a participar das reuniões de terça feira e ajudar nessa tarefa?Quem visitar nosso site pode ver tudo que fazemos, ler noticias, receber nosso News Letter, ver fotos, etc. Mais um trabalho voluntário que recebe apoio apenas de uma loja de equipamentos, não temos verba para pagar mais nenhum serviço, tudo é voluntário.Até quando vamos suportar esse trabalho voluntário?

9) Você acha que o fato da escalada esportiva tornar-se um esporte olímpico, vai atrair mais patrocinadores para os campeonatos e para os atletas?


Pelo que tenho visto nos últimos anos só se alguma empresa que não é do ramo resolver investir, mas mesmo assim precisamos de alguma boa indicação. Quanto aos atletas vale perguntar para eles, até hoje não senti nenhum interesse verdadeiro, apenas dos nossos velhos conhecidos e dedicados atletas de ponta, nem preciso dizer quem são. São eles que competem nos mundiais e sul americanos e batalham muito para isso. Mas estes competidores precisam de apoio não seriam eles a colocar a mão na massa. O que esperamos deles é apenas reconhecimento levando a bandeira da CBME para o exterior e aqui apoiando nossos campeonatos regionais e brasileiro.Vamos tentar este ano mudar o quadro, vamos preparar projetos para usar a Lei do Incentivo ao Esporte, quem sabe conseguimos algum patrocinador. Já imaginaram o trabalho que isso representa? Esperamos apenas que os escaladores se interessem e parem de achar que queremos grana para nosso uso, engraçado até isso não é?



10) Conte-nos um pouco dos Grupos de Trabalho (GT's) da FEMESP. Quais são e quais as atividades principais?


Já falei deles quanto citei as ações da FEMESP mas posso enumera-los e pedir para que aqueles que se identificarem com algumas dessas ações que nos procurem.

GT Itatiaia


GT Adote uma Montanha


GT Homologação de Cursos


GT Manutenção de vias


Atualmente o grupo que está batalhando na reabertura da Guaraiúva (esse é outro caso complicado)Alem disso existem trabalhos da Diretoria cada uma com suas frentes de trabalho. Temos apoio Jurídico de dois montanhistas voluntários e pretendemos criar uma diretoria para eles.


Precisamos achar quem goste de mexer com números e trabalhar com caixa e contador, esse é um trabalho de paciência mesmo e toma tempo.



11)Como se pode entrar em contato com a FEMESP e APEE? E quem tiver interesse em ser voluntário, como deve proceder?


http://www.femesp.org/ e http://www.apee.com.br/ ou aparecer nas reuniões de terça feira. Como não temos sede nos reunimos em uma padaria. Escreva para http://www.blogger.com/secretaria@femesp.org que passo o endereço.

12) Quais são seus planos pessoais futuros como montanhista?


Boa pergunta, meu plano para o futuro é continuar até que o corpo ou a saúde não permitam mais, não pretendo parar de fazer o que faço, quero conhecer muitos locais novos e fazer travessias. Onde? Não importa, desde que a natureza esteja lá integra e maravilhosa.Quanto a FEMESP torço para que exista sempre e se depender de mim vou continuar mas precisamos de reforços pois como estamos não garantimos a continuidade. A APEE tem seu futuro mais incerto ainda caso os escaladores não tomem consciência da importância de sua existência.


13) O que você sugere a aqueles novos praticantes e iniciantes no montanhismo e na escalada?


Sugiro que todos participem do CIM – Curso de Iniciação ao Montanhismo, onde receberá as formações mínimas e necessárias para seguir um bom caminho nesse esporte. Criamos as normas para os iniciantes e para nortear o Montanhismo no Estado de SP, fazendo com que sejamos respeitados como praticantes e montanhistas independentes que gostamos de ser.A partir deste ano nosso estatuto mudou e vamos aceitar filiados individuais, dentro de algumas condições claro, mas isso vai possibilitar que pessoas que não tenham clubes em suas cidades filiem-se e colaborem com nosso movimento. O CIM é fundamental. Com o CIM o montanhista pode solicitar o selo de qualidade de montanhista e poder ser respeitado como tal.Para os velhos montanhistas existe a Oficina do CIM que revive e atualiza alguns conceitos alem de ser um excelente momento de troca de informações.

Agradeço a oportunidade de falar um pouco das nossas aflições e peço que mais e mais gente se filiem, isso vai reforçar a nossa base e trazer um pouco mais de divisas para podermos sustentar os GTs e continuar com a FEMESP ativa.

Fonte:Brasil Vertical

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