quinta-feira, 8 de maio de 2008

Para muitos escaladores, o que interessa é o cume

Para outros, ditos como os verdadeiros, é a forma como se chega ao cume, que interessa - grau de dificuldade das vias escolhidas, equipamentos (cordas pré-instaladas...), utilização de porteadores e, o mais polêmico, a utilização ou não de oxigênio suplementar.

No dia de hoje, 8 de maio, o tirolês Reinhold Messner e seu velho parceiro austríaco Peter Habeler completam 30 anos da primeira (1978) ascensão ao cume do Everest sem a utilização de oxigênio suplementar - para os verdadeiros escaladores de alta montanha, a PRIMEIRA ascensão ao cume da maior montanha do planeta, o Monte Everest. Utilizaram a rota normal: a sul, então utilizada por Sir. Edmund Hillary e seu companheiro sherpa Tenzing Norgay em 1953.

A conquista foi contestada pelos sherpas locais, inclusive requerendo a abertura de um inquérito pela Federação de Montanhistas do Tibet (a mesma que, com apoio do governo chinês e conivência do governo Nepalês fechou as vias de escalada do Everest até essa infame Tocha Olímpica chegar ao seu cume), porque alegavam ser impossível essa proeza. O resultado: arquivamento. Messner e Habeler não são (nem eram) montanhistas de primeira escalada: deixaram no cume uma pequena parte da corda que traziam e uma bateria da câmera que utilizaram para filmar a ascensão amarrados ao "tripé de sobrevivência" deixado pela expedição chinesa de 1975 (tinha de serem eles a poluírem o cume).

A fim de encerrar a polêmica e trazer outra, dois anos depois Messner sobe ao cume; novamente sem oxigênio suplementar e desta feita sozinho. Pra melhorar, utilizou a famigerada rota Norte com um desvio pelo crista Nordeste, entrando abaixo, a fim de evitar o Primeiro e Segundo Escalões (First e Second Steps). Todavia, por um trecho longo com muita probabilidade de avalanche, até encontrar o Contra-forte Norte e seguir direto ao cume. Assim registrou seu nome no panteão do montanhismo mundial, bem como demonstrou até onde a obsessão por um objetivo, com o auxílio de uma mente bem preparada, pode levar o homem.

Dizem que sua ambição levou muitos outros a morte, pois lançou parâmetros até então inexistentes no montanhismo mundial. Mas essa polêmica deve se encerrar por si: em alta montanha cada um sabe o que vai encontrar; ou melhor, não sabe o que vai encontrar... isso é o que se sabe. Portanto, cada um tem de saber o seu limite, sob pena de pagar com a vida.

Suas aventuras estão registradas em várias obras. Mas existem duas especiais que compilam suas epopéias em alta montanha. Nenhuma delas publicadas no Brasil nem em português, mas não podem faltar na biblioteca de montanha. São "The Crystal Horizon - Everest, The First Solo Ascent" e "Reinhold Messner - All Fourteen 8.000ers". Ambas escritas pelo próprio Messner e editadas pela The Mountaineers Books.

A primeira obra é um tratado da história da conquista do Everest, bem como dos povos que o cerca. Imprescindível... A segunda relata, resumidamente e com muitas fotos, todos os 14 picos com mais de 8.000m atingidos por Messner - o primeiro montanhista a atingir tamanha façanha - iniciada pelo Nanga parbat em 1970 e encerrada no Lhotse em 1986.

Nem Messner nem Habeler vindicaram o título de "verdadeira conquista do Everest", mas no fundo, quem tem alma de montanha, sabe o que digo.

Não deixem de procurar estes livros (amazon.com), a importação não é taxada e história é cultura. Isso não tem preço.

Boas escaladas a todos.

Eduardo Fontoura Filho para a lista da HANGON

(obs. a cópia e utilização do texto sem fins lucrativos está autorizada, desde que sejam lançados os créditos e a fonte.)

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