terça-feira, 19 de agosto de 2008

Situação Crítica

16 de agosto de 2006

Estamos vivendo uma fase que precisamos refletir sobre a existência do nosso esporte/atividade. Neste ano (2006) tivemos muitas perdas: de potencial humano (falecimentos); de material (fechamento de revistas) e problemas de acesso. Embora a maioria não tenha interesse pelo o que está acontecendo, achando que escalar é o que importa, apenas isso, em um futuro não muito longínquo esses mesmos não poderão nem mesmo escalar nas principais áreas.

Os escaladores do Rio de Janeiro são privilegiados por uma questão muito simples, a maioria das montanhas, morros e falésias ficam em áreas públicas, sendo elas parques municipais, nacionais, estaduais e área litorânea, e existe um grupo de pessoas organizado que luta pela manutenção do status do montanhismo no Estado. Infelizmente o mesmo não ocorre em igual proporção, por exemplo, em MG, SP, ES etc. Nesses estados, as vias de escalada, a maior parte, situam-se em áreas privadas que podem ser fechadas pela simples vontade dos proprietários. Em outras poucas áreas, situadas em unidades de conservação diversas, os administradores, que em geral possuem má formação ou baixo nível cultural, não difereciam escaladores dos turistas comuns, como o André Ilha dissertou muito bem em seu artigo no jornal O Globo.

Eu já havia levantado este problema nas listas. Apesar do André Ilha ter dito que a maioria dos escaladores é organizada em clubes, federações e confederação para o citado jornal, e isso ficou ótimo, mas a realidade não é essa. Em geral, os escaladores são desorganizados e não ligam para regras (não falo de regras de segurança), são poucos os lugares onde há organização liderada por uma comunidade esclarecida e atuante. Atenção, não se trata de termos lideranças ou entidades para ficar nos policiando e dizendo o que devemos ou o que temos que fazer, não é isso. Como escaladores nós somos livres, escalamos como queremos e podemos não seguir regra nenhuma de segurança. Esse é um problema individual, mas em se tratando do uso comum de áreas que nos interessam e que nosso esporte depende diretamente, o risco é de todos. Um exemplo muito claro é o que aconteceu com o Bauzinho (MG) e algumas "falésias" de Lagoa Santa (MG), além de outras áreas em outros estados. Por que será que essas áreas foram fechadas para os escaladores? O que o André Ilha escreveu e as notícias trazidas pelo Milton Dines devem nos deixar preocupados porque existe uma tendência dos parques estaduais e nacionais fecharem-se ao livre acesso dos escaladores. Imagine você, scalador/montanhista experiente, conhece montanhas do mundo inteiro, conhece muito de ambiente e educação ambiental, ter que pagar um sujeitinho para te levar em alguns lugares turísticos e te dizer o que deve e o que não deve ser feito? Exagero!!! Experimente visitar o Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros (GO/TO), o Parque Estadual da Pedra Azul (ES) e o Santuário do Caraça (MG), entre outros!

Já escrevi sobre o papel que cada um tem no nosso esporte. Todos têm: os que escalam levando os limites para cima, mas dando bons exemplos; os que conquistam vias de QUALIDADE; os que escrevem e divulgam o esporte e, muito importante, aqueles que não aparecem mas lutam pela organização de nossas atividades e nos garante o livre acesso às escaladas. Não podemos esquecer os empresários qua patrocinam o esporte e lutam pelas mesmas causas. Daí a importância dos clubes, associações, federações e confederação. Mais uma vez eu falo da importância do fortalecimento dessas entidades que somente é possível com a contribuição das pessoas. Muitos aqui podem até dizer, eu não sabia que o Antonio Paulo era tão chato e careta... Que conversa chata. Nós passamos a ser "chatos" e "caretas" quando estamos sob ameaça, e todos nós estamos neste exato momento.

No Estado do Rio de Janeiro ainda podemos ir livremente às montanhas, mas para os que não sabe, isso ocorre graças aos esforços e trabalhos de alguns poucos, a maioria desconhece completamente os problemas políticos e interesses de grupos existentes dentro dessas áreas de conservação. Por isso é importante fortalecer as organizações. E, sinceramente, a força potencial que existe entre os milhares de pessoas que praticam escalada ou montanhismo (no sentido mais amplo) é enorme. Se houvesse ou quando houver uma organização atuante e forte, muitas dessas barreiras deixarão de existir e o esporte poderá crescer com qualidade e dignidade, porque em muitos casos ainda somo marginalizados. Será que já atingimos o ponto mais da nossa evolução e agora estamos regredindo?

Amém.

Antonio Paulo Faria

Fonte:CAP Clube Alpino Paulista

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