segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Aldous Huxley escalava???

Oi galera, queria compartilhar um texto (que na minha opinião é fantástico) sobre nosso esporte/"filosofia" de vida que nos une aqui nessa lista.
O trecho é tirado do livro A Ilha, que não tem nada a ver com escalada, mas pelo visto o autor, , conhecia bem a mágica de subir paredes..


"Perigo, que mesmo sendo deliberado foi aceito com alegria. Perigo compartilhado com um amigo, com um grupo de amigos. Compartilhado íntegra e conscientemente. Essa co-participação no perigo passou a ser uma ioga. Dois amigos amarrados por uma corda na encosta de uma rocha. Outras vezes, três e mesmo quatro. Cada um tendo consciência da força dos seus músculos, da sua habilidade, do seu medo e da sua capacidade para vencê-lo. Cada um tendo consciência da existência dos outros, preocupado com eles, fazendo as coisas corretamente para que nada venha a comprometer a segurança dos mesmos. A vida no seu mais alto tom de tensão física e mental. Vida que a ameaça constante da morte torna ainda mais rica, mais inestimavelmente preciosa. Mas à ioga do perigo segue-se a ioga da chegada ao cume, a ioga do repouso e da lassidão, a ioga da receptividade total, a ioga que consiste em aceitar as coisas como nos são dadas, sem as censuras de uma mente moralista e ocupada, sem que nenhuma idéia de segunda mão, nem tampouco nenhum desejo fantasioso sejam adicionados. Sentado, com os músculos relaxados e a mente aberta à luz do sol, às nuvens, à distância e ao horizonte, se chega a entender aquela coisa informe, sem palavras. Não-pensada. No silêncio do cume, longe da excitação da vida diária, consegue-se pressenti-la, aprofundá-la, tolerá-la.
Chegou a hora da descida, da segunda parte da ioga do perigo. A tensão e a consciência da vida serão plenamente renovadas, enquanto, suspenso por uma corda, você se mantiver num equilíbrio instável, à beira da destruição. Ao atingir o sopé do abismo você se liberta da corda e se dirige a passos largos através dos caminhos rochosos, em direção às primeiras árvores. De repente você está na floresta, onde se iniciará uma outra espécie de ioga, a ioga da selva, na qual todos os sentidos têm que estar em permanente estado de alerta. A vida da selva em toda a sua plenitude de beleza e de podridão sórdida e rastejante. E onde se observam em toda a ambivalência dramática: orquídeas e centopeias, sanguessugas e pássaros, sugadores de néctar e sugadores de sangue. A vida impondo ordem ao caos e à feiúra. A vida parecendo repetir os milagres do nascimento e do crescimento. A autodestruição parecendo ser o seu único objetivo! Beleza e horror. Beleza e horror.
E, de repente, como se tivesse chegado de uma expedição às montanhas, você tem consciência de que há uma reconciliação. Mais do que uma simples reconciliação: fusão e identidade. Beleza nascida do horror na ioga da selva. A vida reconciliada com a permanente ameaça da morte, na ioga do perigo. A identificação do vazio e da autoproteção, no "Sabá" da ioga do cume."

Espero que gostem e boas escaladas!

Thais Quacchia
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Obs:Fonte da postagem, recebi via email da lista da Femerj

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