Texto retirado do site do Davi Augusto Marski Filho
Por Davi Marski, em agosto de 2007
Pois bem... Recentemente comecei a preocupar-me com a questão da segurança... dos outros ! Com a crescente popularização da escalada, mais e mais pessoas oriundas da escalada esportiva indoor (ou mesmo do rapel) praticam a escalada esportiva em rocha ou mesmo a escalada mais tradicional (paredes de mais de uma "enfiada").
Segundo o livro do Máximo Murcia, "Prevención, seguridad y autorrescate", e como prática consolidada em todo o mundo, só existe um único jeito "correto" de montar ou equalizar uma parada durante uma escalada. Pouco importa se essa parada será utilizada para dar segurança na próxima enfiada ou se ela será simplesmente utilizada como top-rope. Claro, existem alguma exceções, tais como uso de correntes, etc... mas nesse breve artigo, quero mostrar o que *NÃO* deve ser feito...
Claro que não pretendo esgotar o assunto nesse breve artigo, nem abordar a questão (bem mais complexa) sobre a montagem de paradas utilizando-se equipamentos móveis... , mas espero poder dar uma contribuição sobre a assunto !
Forma Correta de equalizar uma parada dupla em chapeletas:
a) mosquetões de trava em todos os pontos (sempre fechados)
b) a parte "estreita" do mosquetão (se for um mosquetão do tipo HMS ou Pêra) deve estar na "fita"
c) "voltinha" na fita que irá ficar no mosquetão "base" (o mosquetão na extremidade do "V")
d) ângulo estreito formado entre os vértice do "V" (esse ângulo obrigatoriamente tem de ser inferior a 60 graus)
Uma ancoragem equalizada da forma descrita acima distribui as forças de forma igualitária (50% - 50%) para cada uma das chapeletas (ou "P"s).
A Segurança para o escalador (se for o caso) deve ser dada a partir do freio utilizado (ATC, Grigri, etc..), ou seja, ela *NÃO* deve ser dada a partir de alguma "costura" colocada em uma das chapeletas (ou "P"s). Entretanto, isso é super comum, como na imagem a seguir, portanto, vamos as demais formas INCORRETAS de como fazer....
Forma correta de equalizar uma parada
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Parada equalizada com "Costura Guia"
Essa forma *INCORRETA* de montar-se uma parada é muito comum e frequente, o escalador ao invés de utilizar um mosquetão de trava (no exemplo, ele estaria no lado direito), utiliza uma Costura, que ao mesmo tempo equaliza a parada na chapeleta, e também já serve de "guia" para a corda do escalador que irá guiar a escalada a seguir.
Isso é muito comum, e também perigoso... Em caso de queda do escalador, antes que ele clipe-se à primeira proteção após a parada, o fator de queda será muito elevado (muito próximo de um Fator 2), gerando um enorme força de impacto que será praticamente dissipada em sua totalidade na chapeleta (ou "P") no qual encontra-se a costura...
Na prática, uma parada montada dessa forma não está equalizada, pois em caso de uma queda (antes da primeira costura após a parada) "toda" a força do impacto não será distribuída no sistema, e sim recairá sobre apenas uma proteção fixa, podendo levar todo o sistema a falhar.
O correto é montar como na primeira imagem desse artigo, e dar-se a segurança a partir da cadeirinha do escalador.
Dica : Se o risco de queda for alto ou considerável para o guia, é vantajoso que o escalador, assim que chegar a parada, continue mais um pouco (se a corda "der" para tanto, obviamente) e costure a próxima proteção fixa, descendo então até a parada e já deixando a próxima "enfiada" previamente protegida com a corda e uma costura na primeira proteção após a parada.
Forma comum (e errada) de equalizar uma parada usando uma costura
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Parada equalizada com nó "boca-de-lobo"
No caso em questão, estou ilustrando uma parada montada com um nó "boca-de-lobo" em uma chapeleta, mas poderia ser em um "P" que os motivos pelos quais isso está INCORRETO são os mesmos :
o nó "boca-de-lobo" diminui a resistência da fita em quase 45%. Ou seja, uma fita que foi projetada para suportar cerca de 2200N (Newtons) de força, em nó desse tipo, quase não suportaria a metade de sua especificação...
No exemplo, a coisa é crítica ainda pelas bordas afiladas de uma chapeleta... portanto, sem maiores comentários...
Forma extremamente perigosa de equalizar uma parada (usando um nó boca-de-lobo)
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Parece tudo em ordem, certo ? O que acontece se uma chapeleta ou um mosquetão clipada a chapeleta falha ?
Pois é... tudo errado... o escalador esqueceu-se de dar uma volta na fita... Se qualquer uma das chapeletas (ou ""P") apresentar alguma falha, toda parada desmonta-se e não oferece-se qualquer tipo de segurança.
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Parada montada com o "Triângulo Americano" ou "Triângulo Americano da Morte"
Não, eu não sei a origem desse nome... mas esse tipo de equalização é mundialmente conhecido por esse nome.
Não irei entrar nos detalhes das forças envolvidas na fita e nas proteções, mas isso JAMAIS deve ser feito, essa parada *NÃO* está equalizada, as forças *NÃO* estão distribuidas 50% - 50% entre as proteções e na verdade, o escalador está em vias de em caso de queda, provocar um grave acidente.
Para maiores infos, consulte : http://en.wikipedia.org/wiki/American_death_triangle
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0
60
90
120
140
150
Percentual (V)
50%
60%
70%
100%
150%
190%
Percentual (triângulo americano)
70%
100%
130%
190%
290%
380%
Parada montada com costuras
Esse é o tipo de parada costumeiramente montada para escalada em "top-Rope", nesses casos (e apenas nesses casos), se o ângulo for estreito, é algo "tolerável".
O ângulo no "V" deve ser o mais estreito possível.. confira a tabela anterior...
Entretanto, essa forma de equalização JAMAIS deve ser utilizada em escaladas com mais de uma "enfiada" ou "esticão", assim como não deve ser utilizada em outras situações.
No exemplo da imagem ao lado, o mosquetão "Pêra" foi montado no lugar onde estaria uma eventual corda...
Equalização com costuras (evite fazer isso !)
Parada "aberração da natureza"
Bom, vamos aos erros :
Utilização de costuras para montar uma parada (deveria ser apenas mosquetões com trava)
Uso de mosquetão com trava e costura em um mesmo olhal de chapeleta... fica tudo "apertado" e os mosquetões não se movimentam livremente.
Não já nada equalizado... na verdade, é quase um "triângulo americano"...
Nunca sobrecarregue a chapeleta com diversos mosquetões...
Com respeito a "P"s, nunca passe um nó "boca-de-lobo" por dentro de um olhal de um "P", pois além da perda de resistência da fita em 45%, pode haver alguma rebarba de solda ou mesmo algum ponto de ferrugem que literalmente pode vir a cortar a fita...
A forma correta de clipar-se (para fins de ancoragem ou parada) a um "P" é idêntica a de chapeletas : com o uso de mosquetões de trava (com a trava fechada, claro).
Evite utilizar o nó boca-de-lobo ! Como quase toda regra tem excesão... caso o grampo "P" esteja com o olhal afastado da rocha, você *não* deve clipar-se ao olhal (pois isso apenas iria aumentar a força de TORQUE no sistema), e sim tentar DIMINUIR esse torque, nesse caso, utilizando-se de um nó boca-de-lobo o mais próximo possível da rocha....
Jamais passe uma corda ou cordim ou cordelete diretamente por dentro de uma chapeleta. O ângulo é muito agudo (nas bordas da chapeleta) e facilmente pode cortar a corda durante um simples rapel.
DICA : existem chapeletas específicas para isso, com argolas, com bordas suavizadas (tipo as chapeletas desenvolvidas pela Bonier, ou até mesmo os grampos "P", nas quais as cordas podem ser passadas por dentro do olhal sem maiores danos
Rapel diretamente em uma chapeleta
Em caso de necessidade, essa é praticamente única forma correta de montar-se um cordelete para abandono em uma chapeleta.
Ele (o cordelete) deve ser unido utilizando-se um nó de oito ou preferencialmente um nó de pescador *duplo* , e passado por dentro da chapeleta, e a corda, por sua vez, é passada por dentro do cordelete.
O cordelete deve ter um diâmetro de no mínimo 7mm para oferecer um mínimo de segurança neste rapel.
Sem comentários... além da área em contato com as bordas afiladas da chapeleta ser muito pequena, o nó boca-de-lobo diminui em 45% a resistência do cordelete utilizado.
Cordelete em passagem simples e com nó de pescador simples
Novamente... uma aberração e *não* deve ser feito, pelos seguinte motivos :
área de contato muito pequena entre o cordelete e a chapeleta
uso de nó de pescador simples. O nó de pescado simples diminui a resistência da corda em (inacreditáveis) 51%, se fosse utilizado o nó de pescador duplo, a perda da resistência seria de apenas 26%.É isso... boas escaladas, com segurança !
Fonte:http://www.marski.org/index.php?option=com_content&task=view&id=3&Itemid=22
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